domingo, 4 de abril de 2010


CULTURA UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO

Da natureza da cultura ou da natureza a cultura

Roque de Barros Laraia

• Primeira parte

Nessa primeira parte se destaca o estudo da natureza do homem juntamente com sua grande diversidade cultural. Mesmo antes da aceitação de todas as raças o homem já se preocupava com a diversidade existente dentre os povos. De fato é errado ao se fazer uma pesquisa a respeito de algum seguimento social, levar em conta a cultura do pesquisador o que de certa forma acaba contribuindo de maneira negativa, fazendo com que se considere a sociedade pesquisada inferior a de quem esta pesquisando, foi o que aconteceu com Heródoto (484-424 a.C.) um grande historiador grego, ao considerar os costumes dos Lícios diferentes de todas as nações do mundo.
Heródoto descreve no presente livro o trecho que conta na página 10:

Eles têm um costume singular pelo qual diferem de todas as outras nações do mundo. Tomam o nome da mãe, e não o do pai. Pergunte-se a um lício quem é, e ele responde dando o seu próprio nome e o de sua mãe, e assim por diante, na linha feminina. Além disso, se uma mulher livre desposa um homem escravo, seus filhos são cidadãos integrais; mas se um homem livre desposa uma mulher estrangeira, ou vive com uma concubina, embora seja ele a primeira pessoa do estado, os filhos não terão qualquer direito à cidadania.
Essa grande diversidade de costumes, como não poderia deixar de ser, está presente no Brasil. O autor relata que em regiões como a Norte do Brasil a gravidez é como uma doença, e que o ato de parir é considerado descanso, e que o consumo de certos alimentos como manga e leite podem fazer mal a saúde.Por fim se conclui que o homem é igual em relação a sua natureza e diferentes culturalmente.

IDÉIA SOBRE A ORIGEM DA CULTURA


A origem da cultura sempre foi uma preocupação dos estudiosos, pois foi por meio disso que o homem se diferenciou dos animais. Gerando assim uma grande indagação em relação a evolução do homem em comparação aos primatas que os deram origem. Segundo Richard Leackey e Roger Lewin, a evolução cerebral se deu devido a vida constante de seus antepassados em árvores.
Outra questão abordada é o bipedismo, como uma forma de seleção da espécie, pois dava a impressão de intimidação aumentando assim a visibilidade, e tem quem diz que a posição erecta ajudou na evolução da inteligência humana. Já para Claude Levi-Straus o surgimento da cultura se deu a partir do momento que o homem percebeu a primeira regra ou norma. Já Leslie White,
Essa passagem aconteceu porque o ser humano conseguiu gerar símbolos, que são os significados que determinado objeto recebe em cada cultura.

1. DETERMINISMO BIOLÓGICO


A respeito de determinismo biológico é ralado que a muito tempo existem teorias que visam atribuir capacidades a determinados grupos e raças humanas. As especulações feitas por esses estudiosos antropólogos a respeito dos comportamentos humanos afirmam que as divergências genéticas nada tem haver como os vários tipos de cultura. Acredita-se que qualquer individuo desde criança, pode ser educado em qualquer cultura, se for colocado desde o princípio em contato com os costumes de determinados povos.
No presente assunto exposto pelo autor, Laraia finaliza resumindo a explicação de que, “o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo que chamamos de endoculturação. Um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus hormônios mas, em decorrência de uma educação diferenciada.

2. DETERMINISMO GEOGRÁFICO


É exposto o conceito de que a diversidade de tipos de cultura existentes surgem da contribuição das variações sociais. É muito comum haver denominações culturais distintas dentro de um mesmo espaço geográfico. É afirmado que o homem não é limitado ao seu ambiente físico e que a cultura surge dessa capacidade de adaptação dO indivíduo, rompendo as barreiras sociais e contribuindo para a riqueza que é a humanidade.



3. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO CONCEITO DE CULTURA



Edward Tylor (1832 – 1917) teve fundamental importância ao esclarecer de vez o conceito de cultura diante dos já existentes, resumindo da seguinte forma, “tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes, ou qualquer outra capacidade ou hábitos, adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Com esse conceito Tylor incluía todas as formas de viver do homem.
Sendo o precursor do conceito de cultura, tornando formal um assunto que há muito tempo Marvin Harris (1969) aborda. A idéia de que a sociedade não pode ser vista como uma coisa que não sofre modificações, para ele o ambiente influência no comportamento do indivíduo. Ao final desse assunto concluiu-se que o homem é o único ser que possui cultura, conseguindo com o passar de seu crescimento se distinguir diante de todos os seres vivos.

4. O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE CULTURA


Já vimos que Edward Tylor foi o primeiro a definir o que é cultura, diante disso propôs que a cultura pode ser estudada de forma mais organizada, considerando que ela é um fenômeno natural, lembrando que na natureza nada acontece por acontecer, sempre há uma razão diante disso.
Alguns dos impedimentos que interferem no estudo da natureza humana vieram do acatamento das idéias metafísicas. Tylor explica ainda que há uma igualdade na natureza humana, o que se faz mais preocupado com a diversidade cultural que para ele é justificada pelo modo como os seres se desenvolveram.
Vários estudos foram realizados a respeito do desenvolvimento da cultura, e foi constatado que sua evolução se deu de forma idêntica, ou seja, as sociedades mais evoluídas passavam pelo mesmos processos que as primitivas tiveram que percorrer.
Surge então Franz Boas (1858 – 1949) indo totalmente contra ao evolucionismo, que se denomina uma forma de comparação. Antropólogo e também formador dos mesmos, a antropologia para ele possuía duas atribuições:
1) a reconstrução da história de povos ou regiões particulares;
2) a comparação da vida social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis.

É exposta ainda nessa parte o processo de desenvolvimento da civilização que é definida como algo notavelmente acumulativo, ou seja, o antigo é somado ao novo. A evolução do homem se deu por meio da criação de seus meios evolutivos, sem ter que sofrer a uma absoluta transformação orgânica. Sendo assim o que diferencia o humano do animal é justamente a cultura.
Durante essa abordagem nota-se que a cultura humana foi um processo muito importante para o enriquecimento do homem e que a linguagem surgiu dessa evolução cultural, e sem essa comunicação via oral, essa grandiosidade, provavelmente tudo isso não existiria.

6. TEORIAS MODERNAS SOBRE CULTURA

Muito já se foi dito sobre conceitos de cultura, e neste capitulo não será diferente. Ocorrerá que essas teorias irão ser expostas de forma mais precisa e exemplificada, para a melhor compreensão. A primeira teoria abordada é a do estudioso keesing, “ que considera cultura como um sistema adaptado ao meio de acordo com seu conjunto biológico.
Roger Keesing em uma de suas teorias considera cultura como um sistema cognitivo, em outras palavras W. Goodenough define cultura como um sistema de conhecimento. É tudo o que individuo tem que conhecer para se relacionar diante da sociedade a qual está inserido.
Temos ainda declarações de que cultura é um sistema de estrutura, ou seja, um conjunto de símbolos que tendem a se acumular na mente do homem. Relatando a última teoria, que diz, a “cultura como sistema simbólico”, fazendo com que o homem possua mecanismos de controle, regras, instruções, entre outros, para administrar o seu comportamento.

• Segunda parte


COMO OPERA A CULTURA


1. A cultura condiciona a visão de mundo do homem



Sabendo que o homem é um ser preparado para se adaptar a qualquer forma de cultura, acabamos vivendo apenas uma, e por esse motivo dificilmente indivíduos de culturas distintas irão entender a forma de viver uma do outro, se não passarem a buscar conhecimento a respeito dessas diferenças e sem isso acaba gerando a discriminação.
Outra coisa que a cultura influi é em relação ao modo de ser do homem, facilmente será notado a diferença entre as pessoas de costumes diferentes, por meio do modo de agir, comer, caminhar, dialogar entre outras coisas e até mesmo atividades fisiológicas que são comuns a toda a humanidade que sofre o reflexo de um seguimento cultural, isso se explica pelo fato de cada costume ter um padrão a ser seguido.
O fato do homem considerar o seu modo de viver como o mais certo diante da diversidade cultural existente no mundo, sendo este comportamento definido como etnocentrismo, traduz uma grande confusão, gerando assim inúmeros conflitos sociais.
O etnocentrismo é muito comum em todo o mundo, e também pode ser encontrado até mesmo dentro de uma só sociedade. Esse tipo de comportamento pode acarretar em fatores negativos diante das culturas diferentes, sendo alvo de injustos julgamentos, como absurdos, imorais, sem nexo e deprimentes

2. A CULTURA INTERFERE NO PLANO BIOLÓGICO


A cultura tem o poder de interferir no exercício das atividades fisiológicas básicas, podendo até mesmo ser o fator de decisão entre a vida e a morte de seus indivíduos. O homem quando forçadamente é inserido em uma cultura totalmente diferente da que esta costumado, onde há costumes diferentes, crenças, hábitos estranhos e linguagens distintas, perdem toda a motivação de viver e terminam por morrer pela falta de adaptação aos novos meios de cultura.
Há também ainda o estudo das doenças psicossomáticas, que são importantes influências de padrões culturais. Essas doenças surgiram de crenças populares, podemos citar o exemplo de que muitos acreditam que a ingestão de manga e leite pode resultar em uma grande dor no estomago, e que o fato de sentirmos fome ao meio dia é apenas um resultado dos horários de alimentação que variam entre as culturas. Tudo isso, seguindo o molde que cada hábito impõe, e também é capaz de gerar curas de doenças reais e imaginárias.

3. OS INDIVIDUOS PARTICIPAM DIFERENTEMENTE DE SUA CULTURA


A cultura na é exercida de forma completa pelos indivíduos, nenhum conseguirá este feito. A participação em tal cultura dependerá de sua idade, seja ela pelo fato de um seguimento cronológico ou cultural. Há limitações que são feitas pela idade, ou seja, um senhor idoso nunca conseguirá ter a mesma vitalidade de uma criança ou de um jovem, e também uma crianças não poderiam exercer na grande maioria das vezes atividades de adultos.
Porém não existiria um indivíduo que domine todas as vertentes existentes dentro de sua cultura, o indivíduo pode ser totalmente desconhecedor de alguns aspectos, o que conta é que o homem deve possuir um pequeno conhecimento das várias formas de cultura, para que assim possa se relacionar melhor com os integrantes de sua sociedade, e caso não os conheça poderá ser prejudicado dentro do ambiente, e esses conhecimentos devem ser compartilhados entre os mesmos para permitir uma boa convivência.

4. A CULTURA TEM UMA LÓGICA PRÓPRIA


Todas as culturas possuem sua lógica própria, ou seja, existem de acordo com as necessidades de cada costume dos indivíduos, e essa lógica não pode ser transferida de uma cultura para outra. Cada cultura fez com que o mundo se adaptasse e essa lógica depende muito da compreensão das categorias impostas pelos indivíduos.

5. A CULTURA É DINÂMICA


A cultura vem ao longo dos anos sofrendo modificações, ainda que pequenas, pois nem essa percepção acontece de imediato sendo necessária uma observação mais detalhada. A cultura está em constante processo de modificação, existindo assim dois estágios de mudança. O primeiro é uma mudança interna e a outra resulta do relacionamento de uma cultura com a outra. E para a melhor compreensão dessas mudanças, surgiu o conceito de aculturação, que era utilizado pela antropologia desde a ano de 1928. A mudança de hábitos cultuais são bastante comuns, por menor que sejam estas modificações e representam ainda alguns conflitos, pois sempre há um embate entre o novo e o conservador. O importante é compreender esta dinâmica para diminuir o conflito entre as gerações, sabendo que a cultura está sempre em constante mudança.